sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Bagageiro dianteiro

Inicialmente pretendia fazer esta viagem somente com alforges traseiros, mas depois de ouvir algumas pessoas acabei mudando de idéia. Além de mais espaço para distribuir os equipamentos e mantimentos necessários, ja que desejava ter uma boa autonomia, a bagagem dianteira deixaria a pedalada mais confortável, já que a bike fica mais estável, sem parecer um "cavalo chucro" querendo empinar. Além disso, não queria abrir mão de viajar com a suspensão, apesar de desaconselhado por algumas pessoas. Assim, por não encontrar no mercado uma peça que atendesse as minhas necessidades, fui atrás de um bom serralheiro.

Seguindo a idéia do bagageiro traseiro, a intenção era fazer 2 quadrados laterais à roda dianteira para a acomodação dos alforges, sem que estes tocassem nos raios. Juntamente com o serralheiro, e utilizando restos de ferro que haviam na serralheria, fizemos toda a peça.

Inicialmente, fizemos uma estrutura central em forma de "U" invertido, preso na parte inferior das canelas da suspensão por duas abraçadeiras, e na parte superior por um parafuso central preso ao orifício onde ficavam presos os modelos antigos de freio (nas suspensões atuais esse buraco não existe mais, aliás nem esse nem os do V-Break!).

Em seguida fizemos outra estrutura em "U", que soldado na parte superior, constituía a parte frontal do bagageiro, e as partes superiores dos quadrados laterais. Estes foram então fechados, sendo posteriormente prolonagados para fixarem melhor os alforges, e foi feito uma grelha na parte superior (entre os quadrados), algo inexistente nos bagageiros dianteiros comerciais. Pronto!

O serralheiro fez isso em uns 30 minutos, e me cobrou somente 20 reais por tudo. A peça ficou bem resistente, e os únicos problemas que tive, foi a solda da abraçadeira direita que quebrou numa estrada com muitas costelas de vaca (resolvido com um arame amarrando a canela da suspensão e a barra de fixação central do bagageiro, até sua ressolda 2 dias depois) e a falta de acabamento na parte superior, que por falta de uma boa limada começou a rasgar as fitas de sustentação dos alforges.

Assim pude viajar tranqüilamente com a bagagem dianteira, sem interferir no trabalho da suspensão. O único detalhe, é que para colocar e tirar a peça, é necessário retirar um dos lados do V-Break.

Bagageiro traseiro

O primeiro problema que tive quando começei a fazer viagens em bicicleta foi com o bagageiro, já que o quadro da minha bicicleta (GT Avalanche) não possui adaptação para tal. Isso me obrigou a fazer adaptações em etapas, após cada viagem, para melhorar o equipamento. A garupa que utilizo é dessas de ferro bem comum, que ao contrário das de alumínio, são mais pesadas porém muito mais baratas e resistentes. Além disso, caso quebrem podem ser consertadas facilmente, já que é possível arrumar um serralheiro em qualquer aglomerado urbano.

Muitas pessoas que possuem quadro com a mesma limitação, costumam prendê-lo diretamente ao eixo da roda traseira, o que traz 2 incovenientes: deixa a garupa vinculada à roda traseira (se furar o pneu você terá que gastar muito mais tempo tendo que tirar e recolocar a garupa), e corre sério risco de empenar o eixo traseiro. Assim para tornar a garupa traseira independente da roda, fiz duas abraçadeiras também em ferro (pedaços de cano cortados) que coloquei na parte inferior do quadro (em verde). Com essas abraçadeiras é possível utilizar parafusos bem grossos e resistentes para a fixação.

Com essa adaptação a garupa acabou ficando mais alta, e mais para frente, fazendo com que meu calcanhar raspasse nos alforges. Para contornar esse problema, fiz 2 alterações no Bagageiro: diminui sua altura (serrando e soldando as barras laterais) e fiz uma projeção traseira para acomodar melhor a bagagem. É importante que a lateral do bagageiro tenha um formato mais ou menos quadrado, para fixar melhor os alforges, e impedí-los de tocarem nos raios.

Para a fixação superior, além de utilizar uma abraçadeira comum de bicicletas unindo o canote à garupa, soldei nesta um ferro extra com um parafuso na ponta, para sua fixação diretamente no quadro atrás do V-Break. Somando tudo, essas adaptações me custaram em torno de R$ 30 reais.

Apesar de ter feito essa viagem com bastante e peso e em estradas de terra bem esburacadas não tive qualquer problema, nem mesmo com parafusos quebrados.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Rota das Lagunas - Mapas e dicas do pedal

Pra quem estiver interessado em fazer a rota das lagunas (passando pela Laguna Colorada, Laguna Blanca e Vulcão Lincancabur) de bicicleta, deixo aqui um roteiro esquemático de como fiz entre Uyuni e Hito Cajone na Bolívia.




A rota das lagunas é realmente delicada. Fizemos em 4 pessoas, sem GPS, mas com uma carta militar, um mapa esquemático (acima) e mapas normais (que não ajudaram muito). De qualquer jeito, as rotas são bem marcadas no chão pelos 4X4, e qualquer coisa você pára um deles e pede informações. Mas é bom estudar BEM a rota antes de começar, pois ainda assim no equivocamos por duas vezes durante o caminho (nada que levasse a conseqüências drásticas). No google earth, a rota toda está em boa resolução, e dá pra ter uma boa idéia de como é. Todos os pontos importantes deste trecho, você pode pegar aqui:

Tentem não dormir no mesmo lugar que eu no dia 9. Foi a pior noite da minha vida!!! É muito alto, muito frio, e tem um vento infernal!!!! Quase perdi minha barraca por causa dele. Nesse trecho você passa a 5000m!
Fique bem atento ao planejamento, porque não existe muitas ofertas de comida e água no caminho. Pra fazer a rota, levamos comida e água para 3 dias, de Uyuni até San Juan. Em San Juan compramos comida e pegamos água para 7 dias, até a entrada do Parque Eduardo Avaroa (Laguna Colorada). Lá pegamos uma caixa de comida que enviamos direto de Uyuni por uma empresa de turismo (Licancanbur Turismo, que cobrou 20 doletas pela entrega). Nessa caixa tinha comida pra mais 5 dias, até chegar no pueblo de Jama, na fronteira com a Argentina. Mas se liga que nesse povoado não tem nada, nem hotel. E na alfândega os policiais são muito FDP.
Se preparem mesmo pra pegar muito frio a noite. E pegar MUITO MUITO vento. Cicloturismo nessa rota é perrengue! Mas com preparo é totalmente viável para qualquer cicloturista.
Rola umas ceroulas e umas luvas boas e baratas perto do mercadao de Potosi.
Abraço e boa sorte!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Reta Final do Giro Andino


Passei os últimos dias do Giro Andino em Punta del Diablo, mais uma vez na companhia da Família de León. Fiquei no rancho de praia construído pelo próprio Gustavo de León, que o fez em alguns meses enquanto permanecia acampado no terreno. Lá tive oportunidade de aprender muito sobre mecânica de bicicletas com Pablo, enquanto revisávamos minha bicicleta.

De Punta del Diablo segui com um baita vento contra até Chuy, na fronteira com o Brasil. Apesar de inicialmente ter a intenção de seguir pedalando até Porto Alegre, ao chegar em Chuy percebi que minha jornada tinha chegado ao fim, afinal já havia extrapolado o prazo e o orçamento previsto para o Giro Andino. Além do mais, os atrativos que me motivaram a realizar esta viagem se acabavam na fronteira com o Brasil. Assim, segui diretamente para Porto Alegre, e depois de uma passada em Florianópolis cheguei à Brasília, onde a vida continua, agora um pouco séssil.

Ao fim foram pedalados mais de 4.100 km por 6 países, em 4 meses de viagem. Sucesso total! Sem dúvida, uma das melhores coisas que fiz na vida.

Agora é compilar toda as informações adquiridas nessa viagem e assim que possível, disponibilizar para todo cicloviageiro que queira encarar essa experiência. Fora isso, é começar a pensar no próximo Giro. Onde será…?

Pra finalizar deixo essa charge (clique na imagem para ver ampliado):


Acho que ainda estou muito novo pra falar em meia-idade...

Valeu aí a todos que acompanharam o Blog. Assim que puder, espero escrever outro…

Recomendo essa experiência à todos.
Vamos de bicicleta sempre!!!!!!!!!
Qualquer coisa é só entrar em contato comigo: luizfelipebio@gmail.com

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Uruguai, do campo à praia...




De Buenos Aires segui para a charmosa cidadezinha de El Tigre onde atrevessei de barco o Rio da Prata em direçao Nueva Palmira, na República Oriental do Uruguai, onde comi o maior bife à milenesa da minha vida. O Uruguai sem dúvida foi o país onde fui mais bem recebido até aqui. De Nueva Palmira, a Montevideo foram 3 dias de pedal em meio aos pampas Uruguaios.

O Uruguai é um país bem peculiar para viajar em bicicleta. A maioria das cidades não se encontram à beira das rodovias, mas sim a distancias cerca de 3 km das mesmas, o que me obrigava a carregar mais provisoes durante o dia para evitar perda de tempo com deslocamentos desnecessários.

Em Montevideo fui atrás de Pablo de León, uma pessoa que teoricamente teria uma loja de bicicletas no centro da cidade e também recebia cicloviajeiros. Contudo, ao chegar ao local da bicicletaria, encontrei somente um casarao abandonado. Nenhuma pista de Pablo ou da biciletaria. Desencanei dessa história e fui procurar um hotelzinho barato. No dia seguinte, dando uma volta pelo centro de Montevideo, me chamou a atençao o trabalho de ótima qualidade de um pintor, e parei para conversar com ele. Conversa vai, conversa vem, descubro que estava conversando com Marcelo, o irmao da pessoa que buscava. Ê mundinho pequeno... De pronto me ofereceu hospedagem no seu atelier, e me colocou em contato com Pablo.

Passei um dia com Pablo e conheci sua nova sua bicicletaria, que agora era móvil, e tinha como sede uma bela Kombi creme. É uma bicicletaria à domicilio. No dia seguinte Pablo e seus familiares seguiram para Punta del Diablo, uma praia no litoral norte do País, enquanto eu segui para a casa de Cachi, um amigo de Pablo, que morava numa comunidade localizada no Cerro del Burro, a uns 100km de Montevideo.

Apesar de nunca ter visto Cachi na vida, era como se fosse um velho amigo que não via a muito tempo. Fiquei um dia em sua casa conhecendo um pouco mais da cultura Uruguaia e da vida no Cerro del Burro. Lá pude conhecer também Nico, um amigo de Cachi, e antes de seguir viagem combinamos de nos encontramos alguns dias depois na praia de Valizas.

Saindo do Cerro, passei pela estranha cidade de Punta des Leste. A geografia de sua costa é um capricho da natureza. Nessa punta é que se faz a divisão bem marcada entre as praias do oeste, banhadas pelas águas do Rio da Prata (de agua mais doce e barrenta), e do leste, banhadas pelas águas do Oceano Atlântico (bem verdes e com muitas ondas). Infelizmente a beleza do lugar o condenou a se tornar um reduto de cassinos e resorts de luxo, restringindo minha estadia no local a uma breve pedalada.

Em Valizas, encontrei com Cachi e Nico e nos hospedamos na casa de uma amiga de Cachi, que ficava somente a alguns passos da praia. Apesar do sol forte e do dia limpo, tínhamos que ir de casaco para a praia, já que soprava um vento bem frio. Fiquei uns dias por ali antes de seguir para Punta del Diablo, onde me encotraria novamente com Pablo e sua Família.

sábado, 20 de setembro de 2008

22 de Setembro - Dia Mundial sem carros


Devido ao grande transtorno que vem sendo causado pelo excesso de veículos nas cidades, foi criado o dia mundial sem carros, 22 de setembro. Neste dia é pedido para que não utilizem o carro, e que façam também esta sugestão a outras pessoas. Em algumas cidades não é permitida a circulação de automóveis nos centros urbanos, apenas os transportes coletivos e não motorizados.

A experiência inicial da campanha “Um dia sem carro” foi realizada em 1998 com a adesão de 35 cidades francesas. Em 1999, a adesão se estendeu para 66 cidades francesas, 92 italianas e toda uma região de Genebra, na Suíça. No Brasil, a mobilização foi promovida pela primeira vez em 2001, sendo que em 2004 contou com 63 cidades em todo o país. Esta mobilização vem ocorrendo a alguns anos de forma crescente pelo mundo, e tem como objetivo combater a poluição do ar, a emissão excessiva de gases do efeito estufa e estimular o debate sobre temas como a adoção de políticas públicas para transportes coletivos de boa qualidade e o uso de modos não motorizados de transportes.


Motoristas, conscientizai-vos!!!!


Conto com a colaboraçao de voces.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

S. S. de Jujuy - Buenos Aires

A hospitalidade em Jujuy foi tanta, que acabamos ficando uma semana por lá, para descansar e repor as energias. Nada como uma cozinha à nossa disposição após dias de uma dieta bem restritiva... Depois dessas "férias" seguimos até a cidade de Salta pela ruta 9, uma bela e pacata estradinha que vai serpenteando por entre as montanhas.

Em Salta fomos muito bem recebidos na casa de Ramón e sua família, mais uma das casas de ciciclistas da América do Sul. Lá tive o prazer de conhecer Sekiji (o japonês mais latino que já vi!), que vem recorrendo a América do Sul em bicicleta a alguns anos, e estava por lá se recuperando de um problema no olho.

Philip, Ana e eu seguimos no rumo sul até o povoado de El Carril, a 30km de Salta, onde paramos para um looooongo almoço, que selaria nossa despedida. Depois de pedalarmos juntos por 2 meses, me despedia do casal "cicloviajeiro" que seguia para o Parque Nacional Los Cardones em sua Jornada até o Ushuaia, enquanto eu seguia direto para a cidade de Cafayate pela Quebrada de las Conchas.

Em Cafayate fui recebido por Sacha no Taller Utama, onde funciona seu ateliêr e uma bodega de vinho artesanal. Já de volta a estrada, passei por um bloqueio a 3 caminhões chilenos que trabalham para uma mega mineradora na cidade de Catamarca. Era um protesto ao funcionamento desta mineradora, que vem causando vários danos a meio ambiente, contaminando o solo, o ar e a água da região, revoltando muitos Argentinos (http://www.noalamina.org/ ou http://www.pro-eco.ar/). Pouco mais a frente, fiz uma parada para visitar as ruínas de uma antiga fortaleza da civilização Quilmes, de onde pude ter uma idéia do péssimo tempo que me aguardava.

Ao fim do dia chego ao povoado de Amaicha del Valle, no sopé da última montanha que me conduzia através da Abra “El Infernillo” (de apenas 3000m de altitude) para baixo da Cordilheira. A descida, que passa pela formosa cidade de Tafí de Valle, é conhecida pela beleza de sua floresta muito bem conservada e pelo clima subtropical bem agradável. Contudo, ao chegar em Amaicha de Valle sou desaconselhado a seguir minha viagem em bicicleta até Tafí del Valle, já que devido ao mal tempo dos últimos dias, a Abra estava coberta de gelo. Preferi separar minha roupa de "guerra", já no fundo do alforge, e sair bem cedo no dia seguinte para avaliar a situação, esperando também uma melhora no tempo.

Apesar do meu otimismo, o dia acordou pior que o anterior, com muitas nuvens escuras na parte mais alta da serra. Mesmo assim resolvi arriscar. Quanto mais subia, mais esfriava, e com cerca de 20km começou a “neviscar”. A essas alturas já não sentia meus pés, e o pouco de água que vazou da garrafa que trazia no bagageiro traseiro, já havia se transformado em uma pequena escultura de gelo sobre meu saco de dormir.

Foi após uma curva, alguns quilômetros a frente, que percebi que era impossível prosseguir. Não se tratava de um simples mal tempo, mas de uma nevasca que havia deixado a paisagem completamente branca de cima a baixo. Não teve jeito, tive que descer um pouco e “hacer dedo”. Por sorte, logo a primeira camionete que abordei parou, e me deu uma carona até a cidade de Tafí de Valle (2000m). Só assim podia seguir sem que virasse um picolé.


Depois de um bom café com leite para aquecer até a alma segui pela tal descida, ainda com um pouco de neve caindo, até os pampas argentinos (450m) em busca dos esperados dias mais quentes. Era minha despedida da Cordilheira.

No dia seguinte chego a cidade de São Miguel de Tucumán, e depois de uma visita rápida à casa de ciclistas de lá para conhecer Benjamin, pego um trem direto a Buenos Aires cortando o imenso e monótono pampa argentino. Uma ótima opção para aqueles que, assim como eu, não tem muito tempo e dinheiro para recorrer tudo no pedal.

A cidade de Buenos Aires é encantadora, e perfeita para ser descoberta na perspectiva de um ciclista. Além de plana, possui avenidas bem largas, e algumas ruas preferenciais para ciclistas. Pode-se chegar facilmente de bicicleta a muitas atrações da cidade, com a vantagem de curtir melhor a arquitetura da cidade no caminho. Inclusive existe um ótimo material fornecido pelo pessoal da “La bicicleta naranja”, indicando boas rotas para conhecer Buenos Aires (http://www.labicicletanaranja.com.ar/).
A única coisa complicada em Buenos Aires é o Porteño. Ainda mais depois de uma medalha de ouro fresquinha para o futebol argentino...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Paso de Jama, Laguna Verde - S. S. de Jujuy


Saímos da Bolívia pelo Chile numa fronteira bem esquisita. No lado Boliviano a aduana nos cobrou uma inesperada taxa para liberar nossa saída do país, enquanto que no lado chileno simplesmente não havia aduana. Aliás, no trecho de 134 km que fizemos no Chile até o Paso de Jama (fronteira com a Argentina), não havia nada. Contudo, apesar de passarmos duas vezes acima dos 4800m de altitude, as condições agora eram bem melhores que a dos últimos dias, já que finalmente tinhamos asfalto (novinho!) sob nossos pneus, e o insuportável vento agora estava a nosso favor. A combinação descida forte+asfalto+vento a favor, me permitiu atingir velocidades próximas dos 100km/h. Era como viajar de moto com esse nosso agora amigo vento.

Depois de cruzarmos o Paso de Jama, situado a 4130m de altitude, começamos a descer a íngreme e sinuosa estrada da Cuesta de Lipán, até os 2178m de San Salvador de Jujuy, a localidade mais baixa desde que comecei a subir a cordilheira, lá no Perú. No caminho passamos por Purmamarca, e seu famoso Cerro de 7 colores, numa região cercada de belas e coloridas montanhas.

Em S. S. de Jujuy nos hospedamos na casa de Kuky (uma amiga de Felipe e Ana), que juntamente com Rick, passamos momentos bem divertidos. Logo no dia seguinte a nossa chegada tivemos o prazer de comer uma legítima "parrilhada" argentina, com muita carne e vinho de qualidade. Não imaginava o quão bom seria chegar a terra de nossos hermanos...


Rota das Lagunas, Uyuni - Laguna Verde

Sem dúvida, este foi o trajeto mais interessante até aqui. Foram 11 dias para percorrer os 480km que separam Uyuni de Hito Cajone, na fronteira com o Chile, passando paisagens realmente impressionantes composta por vulcões, gêiseres, salares, lagoas, formações rochosas ímpares (como a "árbol de piedra" - foto acima) e até um deserto.


As condições desse percurso também não foram lá muito triviais. Não há estradas por lá, só restando como acesso as trilhas deixadas pelos 4X4 que fazem tours pela região, constituídas basicamente pela combinação de 3 elementos: areia, pedra e costela-de-vaca (ondulações regulares na trilha). A altitude quase sempre ultrapassa os 4000m, chegando à 4950m (o ponto mais alto pedalado até aqui). A consequência é um frio constante apesar dos dias ensolarados, em que registramos em uma noite 14 graus negativos dentro da barraca (equivalente a cerca de -20 graus fora!). O vento é algo incompreensível. São rajadas muito fortes e duradouras que, por sorte, predominaram somente no terço final deste trecho. Além de dar uma surra na minha barraca, deixando-lhe sérias avarias, foi responsável pelo recorde de ineficência da viagem, em que num dia de vento contra nos exigiu 2 horas para cobrir míseros 4 km! Somado a isso tudo, a ausência de infra-estrutura ao longo do caminho nos obrigou a rachar a cabeça com o planejamento, e pedalar com uma sobre-carga de provisões para uma semana, incluindo algo em torno de 10 litros de água por pessoa.

Ainda em Uyuni conhecemos Markus, um cicloturista Austríaco que vem fazendo várias viagens em bicicleta pelo mundo à uns 10 anos. Como também tinha interesse em fazer este trajeto, acabou integrando nossa caravana rumo ao Chile.

Logo no primeiro dia tive a oportunidade de realizar um grande sonho, o de pedalar no famoso Salar de Uyuni. Foram 70 km do mais puro sal até a Isla Incahuasi, onde passamos a noite. Uma pena que o tempo não estava lá muito bom, contudo, foi graças à ele que no dia seguinte pude ver pela primeira vez um pouco de neve cair sobre minha bicicleta.


Passamos por várias lagoas das mais diferentes cores e odores, sempre repleta de flamingos (um dos poucos seres que habitam essas bandas). Talvez a mais incomum seja a Laguna Colorada, na entrada da Reserva Nacional Eduardo Avaroa, que devido a presença de determinadas algas, possui uma coloração avermelhada que varia de tonalidade ao longo do dia.

Outra lagoa que também impressiona é a Blanca, aos pés do vulcão Lincancabur, que apesar do nome possui uma coloração verde-esmeralda. Assim, depois de uma noite de muito vento no horrível e caro hotel nas proximidades dessa Lagoa, nos despedimos da Bolívia onde peladalamos nos últimos 40 dias. Nos despedimoos também de Markus, que seguiu sua viagem rumo à San Pedro do Atacama, enquanto tomamos o rumo oposto em direção ao Paso de Jama, na Argentina.

Realizar este trajeto é algo muito gratificante, pelo que nos exige, e pelo que nos oferece em recompensa. Vale muito à pena.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Potosí - Uyuni

Os dias em Potosí foram de muito descanso e planejamento, já que o trecho que viria pela frente era bem delicado. Aproveitamos para estudar bem todo o material deixado na casa de ciclistas por outros cicliviajeiros que fizeram o caminho inverso. Com a rota bem conhecida, nos despedimos de Florêncio e Teodora para seguirmos em direção a Uyuni, onde se localiza o maior salar do mundo. Foram necessários 4 dias para percorrer os 220km de uma estrada de pura terra, onde aconteceu de tudo.



Logo no primeiro dia enfrentamos um forte vento contra, capaz de nos derrumar com bicicleta e tudo. Eram rajadas de vento muito forte, que enchiam nossa boca de terra. Tava dando pra cuspir tijolo! O pior é que foi todo o dia assim, muito vento e sobe-e-desce. Cansados, resolvemos por fim parar para acampar com míseros 35km rodados e com meu pneu furado.

Logo no início do segundo dia (já sem muito vento) Ana cái de bicicleta numa subida, e com fortes dores no braço, resolve seguir de carona até o próximo povoado para tentar um atendimento médico. Felipe e eu seguimos de bicicleta rumo ao tal povoado, e após 1 hora de subida meu pneu traseiro fura novamente. Depois de remendá-lo percebo que ele estava rasgado. Como havia notado uma deformação neste pneu ainda em La Paz, comprei por lá um reserva que foi imediatamente pra jogo. Agora com os dois pneus novos, e de qualidade, espero não ter mais problemas.

Pouco tempo depois chegamos ao tal povoado, onde encontramos Ana já medicada e sem grandes problemas. Seguimos viagem (a Ana por precaução seguiu em outra carona até um povoado onde planejávamos dormir) com a estrada péssima, cada vez mais cheia de pedras e "costelas de vaca". A suculejada foi tão forte, que um ponto de solda do meu bagageiro dianteiro não resistiu e quebrou. Nada que uma gambiarra não resolvesse.


O terceiro dia começou com uma subida que durou intermináveis 3 horas. Como depois de toda subida vem uma descida, lá vamos nós abaixo novamente pela pela terrível estradinha, onde percebo um barulhinho novo na bicicleta. Desta vez quem pediu as contas foi um raio da roda traseira. Santa estradinha! Tive que seguir num ritmo bem tranquilo até Uyuni, afim de evitar que a roda virasse um ovo.


Depois de amanhecermos numa friaca de 11 graus negativos, e de pedalar 65km de mais terra, subida e buraqueira, chegamos à esquisita cidade de Uyuni, que fica no meio do nada. Ficaremos uns 2 dias para colocar bicicletas em dia e planejar a saída da Bolívia por Hito Cajone, passando pelas famosas lagunas. O caminho promete poucos pontos de apoio, muito vento e uma friaca de até 20 graus negativos. Haja casaco...

quinta-feira, 31 de julho de 2008

La Paz - Potosí















Depois de uma semana de rolé em La Paz e seus arredores, segui com Ana e Phillip para Potosí, a cidade mais alta do mundo, em 1 semana de pedal. Até a cidade de Oruro, famosa pelo seu carnaval, seguimos pelo grande pampa do Altiplano Boliviano, com retas intermináveis e bem monótonas de até 40km de extensão.


Saindo de Oruro entramos numa região mais interessante, cheia de montanhas e cânions, de onde era possível ouvir o barulho de dinamites explodindo nas minas de prata das proximidades da rodovia. É claro que o preço dessas belas paisagens foram dias mais duros, com muitas subidas, mas também com muitas descidas, onde pudemos atingir facilmente os 70km/h. Chegando à cidade de Potosí, atingimos no mesmo dia os pontos mais alto e mais baixo do trecho, à 4275 e 3400m de altitude.

A viagem até aqui foi bem tranquila, já que na Bolívia as estradas estão em ótimo estado de conservação, possuem baixo tráfico de automóveis e poucos povoados em seu curso, sendo que muitos deles mais pareciam povoados fantasma. Passamos por dois balenários termais, onde paramos para dar uma descongelada no corpo, além de dois bloqueios de estrada por manifestanes (algo bem recorrente na Bolívia), que apesar do clima tenso, atravessamos nenhuma problema.

Em Potosí nos hospedamos na casa de Florêncio e Teodora, um casal muito simpático e gentil, que fazem de sua casa uma das poucas casas de ciclistas da América do Sul. Lá eles hospedam cicloturistas do mundo todo à uns 30 anos. A hospitalidade foi tanta que nos sentimos em casa instantâneamente. Nada como uma bela "pizzada" de recepção...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Copacabana - La Paz

Enquanto passeava de bobeira por Copacabana depois do almoço, conheci Philip (suíço) e Ana (colombiana), um casal que está viajando a quase um ano pela América do Sul em bicicleta. Como estariam partindo de Copacabana para La Paz no mesmo dia em que eu, combinamos de seguir juntos.




No primeiro dia contemplamos o visual mais bonito do Lago Titicaca, subindo e descendo pequenos morros, e pegando um frio de congelar os dedos. Durante o caminho foi possível ter uma bela vista da Montanha Llampú, com seus mais de 6300m de altitude, e de toda a Cordilheira Real, uma cadeia de montanhas nevadas próxima da cidade de La Paz. Ao fim do dia conseguimos um bom lugar pra acampar à margem do Titikaka, a cerca de 6 km da cidade de Huarina. Durante a noite ventou um pouco e fez muito frio, o suficiente para acordarmos com as barracas e bicicletas cobertas com uma fina cama de gelo.















No dia seguinte saímos para um dia bem duro até La Paz. Foram 82km feitos bem rápido, para que pudéssemos chegar em um horário seguro por lá. Além de monótona, a estrada não tinha lá muito apelo visual, e pra piorar, chegando em La Paz começa um tráfico intenso e caótico de vans, soltando muita fumaça e buzinando desesperadamente. Pra completar o quadro, a pequena deformação que aparecera no meu pneu dianteiro a alguns dias evoluíra para um pequeno rasgo em crescimento, que poderia comprometer a minha chegada na cidade.

Quando pensei que já havia chegado, me dei conta que estávamos somente em "El Alto", na zona metropolitana de La Paz. Uma cidade muito pobre, que vem crescendo muito rápido em função do fuga dos campesinos para o meio urbano. O centro de La Paz estava uns 400m abaixo dali, acessível por uma terrível autopista de 10km de extensão.

A descida foi para mim a verdadeira estrada da morte*. O trânsito estava intenso, a estrada toda esburacada, e nós bem cansados. Por volta das 14h, finalmente chegamos à Plaza San Francisco. Agora seriam mais uns diazinhos tranqüilos de turista, com muita comilança no Mercado pra acumular umas energias.




*Alusão a uma das mais conhecidas atrações turísticas da região, a Estrada da Morte, um grande "downhill" feito em bicicleta organizado por algumas agências de turismo, em uma estrada tenebrosa até a cidade de Coroico. Ao contrário do preço, o passeio parece ser interessante.

domingo, 13 de julho de 2008

Puno - Copacabana (sempre cerca dos 3800m)















Recuperado, segui para Copacabana em 2 dias de viagem. Apesar dessa região ser bem fria, a estrada é muito plana, tornando a pedalada mais tranquila. No primeiro dia cheguei a pequena cidade de Juli, numa estrada de retas intermináveis pelo "puro pampa", como dizem por aqui. O Lago mesmo, só vi pela manhã.

Logo no início do segundo dia, a estrada se aproximou novamente da margem do Titikaka, e pude assim apreciar o belo azul de suas águas. Como nem tudo é maravilha, depois de passar pela simpática cidade de Pomata, peguei um longo trecho de vento contra, que baixou minha velocidade média à metade, me dando uma boa canseira.


Por volta das 16h, já sem muito vento, cheguei à fronteira com a Bolívia onde gastei um tempo para agilizar a papelada na imigração, e trocar meus Soles por Bolivianos. Cheguei à turística cidade de Copacabana, 8 km à frente, à tempo de pegar um belo pôr do sol num confortável quarto de hotel de frente pro Titikaka. Que mordomia! Mesmo com banheiro privado, ducha quente e TV a cabo, paguei o mesmo preço que pagava nos muquifos de banheiro compartilhado do Perú. Tudo isso por causa de uma fronteira...

















A cidadezinha é muito agradável e com boas atrações turísticas. E o melhor de tudo... é muito barata! Aproveitei para ficar 2 dias de rolé, e comer bem. De agora em diante estaria 1 fuso horário a menos em relação ao Perú. O chato foi que pra descobrir isso tive que perder de bobeira um almoço, por chegar 1hora mais tarde no restaurante. Aprendi rapidinho.














Cusco














Como a região de Cusco é cheia de atrativos, aproveitamos para ficar mais de uma semana turistando. Fora a cidade que merece no mínimo um dia inteiro só para ser explorada, existe nas redondezas várias ruínas muito interessantes, sem falar de Machu Picchu (que atualmente parece mais a Disneylândia que um Sítio arqueológico). É claro que tudo isso exigiu muito do bolso e também do físico.

Tentamos, na medida do viável, compatibilizar o uso da bicicleta com o turismo na região durante esses dias. Apesar de possível, existindo até pacotes para Machu Pichu integrados com o uso bicicleta, nossa experiência inicial não foi lá muito bem sucedida, pra não dizer, uma furada. A questão é que exige-se TEMPO e ENERGIA para visitar os sítios. E como estes possuem uma considerável distância horizontal (e vertical!) entre si, o deslocamento em bicicleta acaba exigindo também muito TEMPO e ENERGIA, mesmo com a bicicleta descarregada. Assim, por uma questão de otimização, resolvemos dar uma pequena trégua para nossas valentes.














Ao fim da semana o Mário resolveu seguir direto para sua casa, enquanto eu continuava com o Giro Andino. Como teria a oportunidade de encontrar minha namorada em La Paz dentro de um tempo menor que o planejado para chegar até lá pedalando, teria que dar uma "adelantada" na viagem. Assim, optei em fazer de ônibus o trecho de 390km (cerca de 4 dias de pedal) entre Cusco e Puno, já que tinha interesse em pedalar às margens do Lago Titicaca, e porque tinha uma diarréia insistente à 2 dias que me tirava qualquer ânimo de montar na magrela. Assim segui dia 04/07 direto para Puno, e depois de um dia de recuperação, segui sozinho a primeira cidade boliviana depois da fronteira com o Perú, Copacabana.

Apesar de ter feito esse trecho em ônibus meio a contra-gosto, já que fugia ao planejado, foi uma experiência interessante. Foi a primeira vez que vi a formação de placas de gelo na parte interna da janela de um ônibus, e a inoperação de sanitários por congelamento da água da tubulação. Notícia não muito bem-vinda, considerando a triste situação intestinal que me encontrava. No fim deu tudo certo.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ccatcca (3700m) - Cusco (3200m)



Acordamos para encarar o que prometia ser mais uma interminável subida. Ao arrumar as coisas pela manhã, notei que a capa de chuva e os alforges estavam ligeiramente congelados, e não tinham lá muita flexibilidade. Assim como o equipamento, nossos corpos também não tinham lá muita flexibilidade com essas temperaturas, e a regulação térmica foi conturbada durante a pedalada. O forte sol e o vento gelado nos obrigou a parar várias vezes para trocar de roupas. Estava difícil achar uma combinação adequada que não nos fizesse tremer de frio, ou se esvair em suor.

Para nosso espanto, com apenas 8km de subida chegamos ao seu fim, na Abra Coyuni, à 4185m de altitude. De lá começou a melhor descida até aqui, onde baixamos à 3283m de altitude, em meia hora de uma descida forte, numa estrada perfeita, cheia de curvas fechadas e precipícios. Tudo que eu sonhava. Ali eu vi que uma falha qualquer nos freios nos trariam sérios problemas. Ao final dessa maravilhosa descida acabava a Carretera Interoceânica, nas proximidades da cidade de Urcos, cerca de 40km de Cusco.

Novamente foi perceptível uma mudança brusca no ambiente, com o clima ficando bem mais quente e a vegetação mais xérica, com a presença de muitas cactáceas. Até a sinalizaçao da rodovia nos indicavam sinais dessa mudança, com uma sugestiva dica acatada prontamente. Foi muito agradável pegar um vento e um bronze nas canelas depois de alguns dias dessas privações.

Na estrada já era possível observar alguns sítios arqueológicos, e até algumas ruínas pré-colombianas - sinais das proximidades de um grande sítio arqueológico. Concomitantemente nossos outros sentidos não tiveram a mesma sorte. O fedor de um rio poluído bem próximo à rodovia, a grande quantidade de fumaça negra inalada (advinda dos escapamentos dos agora numerosos caminhões) e o incômodo barulho de aviões subindo e descendo mais à frente, nos davam outro sinal - a proximidade de um "moderno" centro urbano. Paradoxo? Não, se chama Cusco mesmo.
Chegamos à sua famosa Plaza de Armas no dia 26/06, por volta das 16h. Graças ao Erick, um dentista cusqueño que conhecemos no albergue de Puerto Maldonado, conseguimos alojamento com nossa barraca em um casarão antigo de sua propriedade, localizado no centro histórico de Cusco. Salve!

Subindo os Andes: Km 117 (4600m) - Ccatcca (3700m)



Depois da noite gelada, saímos pra enfrentar os 5km que nos separavam da parte mais alta da estrada. Foi necessário uma hora de subida em meio as alpacas e lhamas para atingir os picos nevados, a exatos 4748m de altitude. Com uma caminhadinha simbólica era possível tocar a neve dos gigantes. Um visual muito bonito. Mais bonito ainda era saber que dali pra frente era só a longa descida prometida, que começou com uma estrada de terra batida e logo se transformou em um asfalto novinho em folha. Ao todo foram cerca de 4 horas descendo sem parar, passando por várias vilas peruanas bem tradicionais.















A mudança de ambiente após o cume foi abrupta. Finalmente havíamos acabado de atravessar o divisor entre a Amazônia e a Puna peruana. A cordilheira nevada ao fundo dava especial beleza àquela paisagem. Como nem tudo era beleza, a descida foi bem desgastante. Era impossível passar dos 40km/h devido ao frio. O vento estava muito seco e o sol muito forte, maltratando muito a boca, que logo se encheu de feridas, e os olhos que ficaram bem ressecados e irritados.


Depois de passarmos por Ocongate, ao final da longa descida, começou uma inesperada e interminável subida, por povoados onde mais uma vez não nos sentimos muito à vontade. Já bem cansados, e desconfortáveis com as indesejosas recepções ao longo do caminho, onde éramos "gentilmente" chamados de "GRINGOOOOS!", paramos no primeiro hotel que encontramos no povoado de Ccatcca para um repouso necessário.