segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Paso de Jama, Laguna Verde - S. S. de Jujuy


Saímos da Bolívia pelo Chile numa fronteira bem esquisita. No lado Boliviano a aduana nos cobrou uma inesperada taxa para liberar nossa saída do país, enquanto que no lado chileno simplesmente não havia aduana. Aliás, no trecho de 134 km que fizemos no Chile até o Paso de Jama (fronteira com a Argentina), não havia nada. Contudo, apesar de passarmos duas vezes acima dos 4800m de altitude, as condições agora eram bem melhores que a dos últimos dias, já que finalmente tinhamos asfalto (novinho!) sob nossos pneus, e o insuportável vento agora estava a nosso favor. A combinação descida forte+asfalto+vento a favor, me permitiu atingir velocidades próximas dos 100km/h. Era como viajar de moto com esse nosso agora amigo vento.

Depois de cruzarmos o Paso de Jama, situado a 4130m de altitude, começamos a descer a íngreme e sinuosa estrada da Cuesta de Lipán, até os 2178m de San Salvador de Jujuy, a localidade mais baixa desde que comecei a subir a cordilheira, lá no Perú. No caminho passamos por Purmamarca, e seu famoso Cerro de 7 colores, numa região cercada de belas e coloridas montanhas.

Em S. S. de Jujuy nos hospedamos na casa de Kuky (uma amiga de Felipe e Ana), que juntamente com Rick, passamos momentos bem divertidos. Logo no dia seguinte a nossa chegada tivemos o prazer de comer uma legítima "parrilhada" argentina, com muita carne e vinho de qualidade. Não imaginava o quão bom seria chegar a terra de nossos hermanos...


Rota das Lagunas, Uyuni - Laguna Verde

Sem dúvida, este foi o trajeto mais interessante até aqui. Foram 11 dias para percorrer os 480km que separam Uyuni de Hito Cajone, na fronteira com o Chile, passando paisagens realmente impressionantes composta por vulcões, gêiseres, salares, lagoas, formações rochosas ímpares (como a "árbol de piedra" - foto acima) e até um deserto.


As condições desse percurso também não foram lá muito triviais. Não há estradas por lá, só restando como acesso as trilhas deixadas pelos 4X4 que fazem tours pela região, constituídas basicamente pela combinação de 3 elementos: areia, pedra e costela-de-vaca (ondulações regulares na trilha). A altitude quase sempre ultrapassa os 4000m, chegando à 4950m (o ponto mais alto pedalado até aqui). A consequência é um frio constante apesar dos dias ensolarados, em que registramos em uma noite 14 graus negativos dentro da barraca (equivalente a cerca de -20 graus fora!). O vento é algo incompreensível. São rajadas muito fortes e duradouras que, por sorte, predominaram somente no terço final deste trecho. Além de dar uma surra na minha barraca, deixando-lhe sérias avarias, foi responsável pelo recorde de ineficência da viagem, em que num dia de vento contra nos exigiu 2 horas para cobrir míseros 4 km! Somado a isso tudo, a ausência de infra-estrutura ao longo do caminho nos obrigou a rachar a cabeça com o planejamento, e pedalar com uma sobre-carga de provisões para uma semana, incluindo algo em torno de 10 litros de água por pessoa.

Ainda em Uyuni conhecemos Markus, um cicloturista Austríaco que vem fazendo várias viagens em bicicleta pelo mundo à uns 10 anos. Como também tinha interesse em fazer este trajeto, acabou integrando nossa caravana rumo ao Chile.

Logo no primeiro dia tive a oportunidade de realizar um grande sonho, o de pedalar no famoso Salar de Uyuni. Foram 70 km do mais puro sal até a Isla Incahuasi, onde passamos a noite. Uma pena que o tempo não estava lá muito bom, contudo, foi graças à ele que no dia seguinte pude ver pela primeira vez um pouco de neve cair sobre minha bicicleta.


Passamos por várias lagoas das mais diferentes cores e odores, sempre repleta de flamingos (um dos poucos seres que habitam essas bandas). Talvez a mais incomum seja a Laguna Colorada, na entrada da Reserva Nacional Eduardo Avaroa, que devido a presença de determinadas algas, possui uma coloração avermelhada que varia de tonalidade ao longo do dia.

Outra lagoa que também impressiona é a Blanca, aos pés do vulcão Lincancabur, que apesar do nome possui uma coloração verde-esmeralda. Assim, depois de uma noite de muito vento no horrível e caro hotel nas proximidades dessa Lagoa, nos despedimos da Bolívia onde peladalamos nos últimos 40 dias. Nos despedimoos também de Markus, que seguiu sua viagem rumo à San Pedro do Atacama, enquanto tomamos o rumo oposto em direção ao Paso de Jama, na Argentina.

Realizar este trajeto é algo muito gratificante, pelo que nos exige, e pelo que nos oferece em recompensa. Vale muito à pena.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Potosí - Uyuni

Os dias em Potosí foram de muito descanso e planejamento, já que o trecho que viria pela frente era bem delicado. Aproveitamos para estudar bem todo o material deixado na casa de ciclistas por outros cicliviajeiros que fizeram o caminho inverso. Com a rota bem conhecida, nos despedimos de Florêncio e Teodora para seguirmos em direção a Uyuni, onde se localiza o maior salar do mundo. Foram necessários 4 dias para percorrer os 220km de uma estrada de pura terra, onde aconteceu de tudo.



Logo no primeiro dia enfrentamos um forte vento contra, capaz de nos derrumar com bicicleta e tudo. Eram rajadas de vento muito forte, que enchiam nossa boca de terra. Tava dando pra cuspir tijolo! O pior é que foi todo o dia assim, muito vento e sobe-e-desce. Cansados, resolvemos por fim parar para acampar com míseros 35km rodados e com meu pneu furado.

Logo no início do segundo dia (já sem muito vento) Ana cái de bicicleta numa subida, e com fortes dores no braço, resolve seguir de carona até o próximo povoado para tentar um atendimento médico. Felipe e eu seguimos de bicicleta rumo ao tal povoado, e após 1 hora de subida meu pneu traseiro fura novamente. Depois de remendá-lo percebo que ele estava rasgado. Como havia notado uma deformação neste pneu ainda em La Paz, comprei por lá um reserva que foi imediatamente pra jogo. Agora com os dois pneus novos, e de qualidade, espero não ter mais problemas.

Pouco tempo depois chegamos ao tal povoado, onde encontramos Ana já medicada e sem grandes problemas. Seguimos viagem (a Ana por precaução seguiu em outra carona até um povoado onde planejávamos dormir) com a estrada péssima, cada vez mais cheia de pedras e "costelas de vaca". A suculejada foi tão forte, que um ponto de solda do meu bagageiro dianteiro não resistiu e quebrou. Nada que uma gambiarra não resolvesse.


O terceiro dia começou com uma subida que durou intermináveis 3 horas. Como depois de toda subida vem uma descida, lá vamos nós abaixo novamente pela pela terrível estradinha, onde percebo um barulhinho novo na bicicleta. Desta vez quem pediu as contas foi um raio da roda traseira. Santa estradinha! Tive que seguir num ritmo bem tranquilo até Uyuni, afim de evitar que a roda virasse um ovo.


Depois de amanhecermos numa friaca de 11 graus negativos, e de pedalar 65km de mais terra, subida e buraqueira, chegamos à esquisita cidade de Uyuni, que fica no meio do nada. Ficaremos uns 2 dias para colocar bicicletas em dia e planejar a saída da Bolívia por Hito Cajone, passando pelas famosas lagunas. O caminho promete poucos pontos de apoio, muito vento e uma friaca de até 20 graus negativos. Haja casaco...