As condições desse percurso também não foram lá muito triviais. Não há estradas por lá, só restando como acesso as trilhas deixadas pelos 4X4 que fazem tours pela região, constituídas basicamente pela combinação de 3 elementos: areia, pedra e costela-de-vaca (ondulações regulares na trilha). A altitude quase sempre ultrapassa os 4000m, chegando à 4950m (o ponto mais alto pedalado até aqui). A consequência é um frio constante apesar dos dias ensolarados, em que registramos em uma noite 14 graus negativos dentro da barraca (equivalente a cerca de -20 graus fora!). O vento é algo incompreensível. São rajadas muito fortes e duradouras que, por sorte, predominaram somente no terço final deste trecho. Além de dar uma surra na minha barraca, deixando-lhe sérias avarias, foi responsável pelo recorde de ineficência da viagem, em que num dia de vento contra nos exigiu 2 horas para cobrir míseros 4 km! Somado a isso tudo, a ausência de infra-estrutura ao longo do caminho nos obrigou a rachar a cabeça com o planejamento, e pedalar com uma sobre-carga de provisões para uma semana, incluindo algo em torno de 10 litros de água por pessoa.
Ainda em Uyuni conhecemos Markus, um cicloturista Austríaco que vem fazendo várias viagens em bicicleta pelo mundo à uns 10 anos. Como também tinha interesse em fazer este trajeto, acabou integrando nossa caravana rumo ao Chile.
Logo no primeiro dia tive a oportunidade de realizar um grande sonho, o de pedalar no famoso Salar de Uyuni. Foram 70 km do mais puro sal até a Isla Incahuasi, onde passamos a noite. Uma pena que o tempo não estava lá muito bom, contudo, foi graças à ele que no dia seguinte pude ver pela primeira vez um pouco de neve cair sobre minha bicicleta.
Passamos por várias lagoas das mais diferentes cores e odores, sempre repleta de flamingos (um dos poucos seres que habitam essas bandas). Talvez a mais incomum seja a Laguna Colorada, na entrada da Reserva Nacional Eduardo Avaroa, que devido a presença de determinadas algas, possui uma coloração avermelhada que varia de tonalidade ao longo do dia.
Outra lagoa que também impressiona é a Blanca, aos pés do vulcão Lincancabur, que apesar do nome possui uma coloração verde-esmeralda. Assim, depois de uma noite de muito vento no horrível e caro hotel nas proximidades dessa Lagoa, nos despedimos da Bolívia onde peladalamos nos últimos 40 dias. Nos despedimoos também de Markus, que seguiu sua viagem rumo à San Pedro do Atacama, enquanto tomamos o rumo oposto em direção ao Paso de Jama, na Argentina.
Realizar este trajeto é algo muito gratificante, pelo que nos exige, e pelo que nos oferece em recompensa. Vale muito à pena.