Acordamos para encarar o que prometia ser mais uma interminável subida. Ao arrumar as coisas pela manhã, notei que a capa de chuva e os alforges estavam ligeiramente congelados, e não tinham lá muita flexibilidade. Assim como o equipamento, nossos corpos também não tinham lá muita flexibilidade com essas temperaturas, e a regulação térmica foi conturbada durante a pedalada. O forte sol e o vento gelado nos obrigou a parar várias vezes para trocar de roupas. Estava difícil achar uma combinação adequada que não nos fizesse tremer de frio, ou se esvair em suor.
Para nosso espanto, com apenas 8km de subida chegamos ao seu fim, na Abra Coyuni, à 4185m de altitude. De lá começou a melhor descida até aqui, onde baixamos à 3283m de altitude, em meia hora de uma descida forte, numa estrada perfeita, cheia de curvas fechadas e precipícios. Tudo que eu sonhava. Ali eu vi que uma falha qualquer nos freios nos trariam sérios problemas. Ao final dessa maravilhosa descida acabava a Carretera Interoceânica, nas proximidades da cidade de Urcos, cerca de 40km de Cusco.
Novamente foi perceptível uma mudança brusca no ambiente, com o clima ficando bem mais quente e a vegetação mais xérica, com a presença de muitas cactáceas. Até a sinalizaçao da rodovia nos indicavam sinais dessa mudança, com uma sugestiva dica acatada prontamente. Foi muito agradável pegar um vento e um bronze nas canelas depois de alguns dias dessas privações.
Na estrada já era possível observar alguns sítios arqueológicos, e até algumas ruínas pré-colombianas - sinais das proximidades de um grande sítio arqueológico. Concomitantemente nossos outros sentidos não tiveram a mesma sorte. O fedor de um rio poluído bem próximo à rodovia, a grande quantidade de fumaça negra inalada (advinda dos escapamentos dos agora numerosos caminhões) e o incômodo barulho de aviões subindo e descendo mais à frente, nos davam outro sinal - a proximidade de um "moderno" centro urbano. Paradoxo? Não, se chama Cusco mesmo.
Chegamos à sua famosa Plaza de Armas no dia 26/06, por volta das 16h. Graças ao Erick, um dentista cusqueño que conhecemos no albergue de Puerto Maldonado, conseguimos alojamento com nossa barraca em um casarão antigo de sua propriedade, localizado no centro histórico de Cusco. Salve!